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Bem-estar

Quanto custa ser obeso?

SUS gasta R$ 490 milhões por ano com a obesidade. Após perder 40 quilos em 3 meses, Flávio confirma redução de gastos. Veja as dicas 

Os custos da obesidade vão muito além do dinheiro gasto com a sobremesa após o almoço. Na epidemia de ganho de peso que assola o mundo, uma pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UNB) atestou que o Sistema Único de Saúde dispensa R$ 490 milhões por ano para tratar pacientes com excesso de peso e que acabam doentes.

O estudo foi feito pela nutricionista da UNB Michele Lessa. Ela mapeou o valor empregado pelos hospitais e ambulatórios públicos do País para atender as sequelas de 26 doenças que têm como gatilho a obesidade.

“O ponto de partida foram pesquisas internacionais que já haviam detectado, de forma consistente, quantas pessoas desenvolveram diabetes, hipertensão, câncer entre outros problemas de saúde por estarem obesas”, explica Michele.

“Aplicamos os dados ao universo brasileiro e foi possível calcular a fração de gastos nacionais com a obesidade. Chegamos a quase meio bilhão de reais anualmente.”

Os números encontrados pela nutricionista foram usados pelo Ministério da Saúde como base nos programas governamentais para reduzir a obesidade e o sobrepeso, condições hoje presentes em 52% dos brasileiros, conforme divulgou o ministro da saúde, Alexandre Padilha.

Há três meses, o gaúcho Flávio de Medeiros Horta, 42 anos, fazia parte desta parcela da população. Após perder 38 quilos em 90 dias – saindo da marca de 112 kg para os 74 kg atuais – ele não apenas evitou que a obesidade o transformasse em um dos pacientes do sistema de saúde como atesta que enxugar medidas resultou, como efeito colateral, na redução de gastos pessoais.

Veja o antes e depois

 “Eu não sabia o preço das frutas e verduras e fiquei surpreso. Elas custam muito menos do que eu imaginava”, conta ele.

“O que eu gasto em uma semana com estes produtos saudáveis era o que gastava em apenas um dia com doces e refrigerantes, estes sim produtos caros, que a gente nem percebe quanto pesam no bolso”, avalia.

O estímulo para o emagrecimento, conta Flávio Horta, foi o concurso para virar oficial da Aeronáutica. A seleção previa, além da prova escrita, avaliação física. No edital, estavam descartados candidatos com sobrepeso. Horta tratou de correr atrás de uma nova silhueta para estar apto ao concurso e, de quebra, saiu da mira de uma série de doenças atreladas à obesidade.

“Eu estava já com pressão e colesterol altos, em uma rotina completamente sedentária. Já não conseguia apertar o passo para pegar ônibus. Agora corro 10 quilômetros todo dia em pleno fôlego”, diz com orgulho sobre a nova forma, esculpida com ajuda de um personal trainer, nutricionista e restrição de açúcar e carboidratos.

Matemática

Se Flávio Horta evitou o agravamento das condições de saúde ao emagrecer, a autora do estudo da UNB reforça que o objetivo do mapeamento não é culpar o paciente pelos gastos do SUS com a obesidade.

“Existe todo um contexto por trás da obesidade. O grande propósito do trabalho foi mostrar que é preciso um empenho geral para combatê-la, inclusive do ponto de vista financeiro”, avalia Michele Lessa.

“Podemos citar como influentes desde a violência que impede as pessoas de optarem por uma caminhada em vez do carro até o cardápio dos restaurantes e lanchonetes que não reservam opções saudáveis.”

A nutricionista Liliam Teixeira Francisco, especializada em obesidade, traz mais algarismos para a matemática que resulta em obesidade.

“O mundo moderno fez com que as pessoas sintam mais necessidade de procurar alimentos que deem prazer para compensar a falta de tempo e o estresse”, avalia.

Os doces e as gorduras nocivas, mostra a neurociência, funcionam inicialmente como condutores de sensação prazerosa, em um processo cerebral semelhante ao percorrido pelas drogas .

“O obeso acaba tendo mais poder de escolha e muita variedade à sua volta (destes tipos de alimento que aguçam o prazer). O exagero acaba como o grande problema. Hoje se come mais pelo valor pago em uma refeição do que pela vontade. Um exemplo são os rodízios: ‘já que vou à churrascaria vou comer até não aguentar mais’. No futuro, quem pede a conta é a saúde.”

Sandra Aurea Hamzeh, psicóloga especializada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo em pacientes compulsivos e com transtornos alimentares, descreve outros fatores influentes na alimentação compulsiva por trás dos Índices de Massa Corporal (IMC) não saudáveis.

“Enfrentamos uma cultura de época que estimula o fast-food, as comidas congeladas e o self-service, no intuito de melhorar a praticidade e aumentar o tempo de produtividade dos trabalhadores”, diz. “Com isso, as refeições diárias passaram a ser rápidas, automatizadas e muitas vezes até neuróticas”, complementa Sandra.

Ganho de saúde

Se os especialistas já identificaram que são vários os componentes na equação da obesidade, as pesquisas também já conseguem apontar que o emagrecimento agrega economia financeira a longo prazo.

A Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica estima, por exemplo, que os planos de saúde recuperam, automaticamente, os custos de uma cirurgia de redução de estômago entre dois e quatro anos após a realização da operação. A explicação é simples: este paciente que deixa de ser obeso depois do procedimento cirúrgico passa a usar menos os serviços do plano para tratar outras doenças que seriam acarretadas pela obesidade.

Flávio Horta, hoje magro sem auxílio do bisturi, diz que a economia financeira só não foi maior porque ele teve que renovar todo o guarda-roupa. Mas as vantagens projetadas a longo prazo também incluem vantagens financeiras.

“Foi pelo meu sonho de entrar para Aeronáutica que eu emagreci. Fui aprovado nesta seleção semana passada, o que significa que o salário também vai aumentar com o novo emprego. Sem falar do velho clichê verdadeiro de que saúde não tem preço.”

Fonte: Saúde IG

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