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Vá de bike!
Qualidade de vida

Vá de bike!

Os benefícios de se deslocar de bicicleta em centros urbanos superam os riscos – um estímulo para mais brasileiros darem uma chance à magrela e contribuírem inclusive com a saúde da cidade

ESCRITO POR
THEO RUPRECHT

Abandonar o carro e subir na bicicleta afasta obviamente o sedentarismo. Na contramão, a atitude deixaria a pessoa mais sujeita a atropelamentos e ao contato com poluentes. Então, entre o ar condicionado e o vento na cara, que opção adotar pensando em nossa integridade física? Uma linha de estudos, reforçada por um trabalho europeu contundente que acaba de ser divulgado, responde: invista no transporte ativo.

Os pesquisadores calcularam desta vez o que ocorreria com as taxas de mortalidade de Barcelona, Basileia, Paris, Praga e Varsóvia se o número de viagens com bike nesses municípios subisse para 35%, a realidade de Copenhague. Para a conta ser fidedigna, primeiro eles consideraram características de cada cidade – poluição, nível de sedentarismo, uso de bicicletas e proporção de acidentes fatais por quilômetro percorrido (contemplando vários meios de transporte). Depois, estimaram como o cumprimento daquela meta afetaria essas estatísticas. Pensa que acabou? Pois eles incluíram na matemática o impacto de pedalar e o de respirar fumaça na saúde.

Finalmente chegamos ao resultado: de 150 a 389 óbitos por ano teriam sido evitados nesses locais se pouco mais de um terço dos deslocamentos fosse feito com bicicleta. “Apesar de um ciclista aspirar mais poluição do que um motorista, o exercício que ele faz suplanta os riscos”, diz David Rojas-Rueda, autor da investigação e membro do Centro de Pesquisa em Epidemiologia Ambiental, na Espanha. “Em outras palavras, é melhor pedalar do que dirigir até o trabalho”, conclui.

Mas nós, brasileiros, podemos recorrer ao jargão de que as coisas são diferentes por aqui. São mesmo: o trânsito das nossas metrópoles é mais caótico do que na Europa. Contudo, a porcentagem de ciclistas urbanos no Brasil é menor – em São Paulo, só cerca de 2% das viagens são realizadas com a mão no guidão. E um relatório da organização britânica National Cycling Charity revela que, quanto mais gente pedala, maior a segurança dos ciclistas (e de pedestres e motoristas). Na Holanda, o aumento de 45% na utilização de bicicletas entre 1980 e 2005 veio atrelado a uma queda de 58% na morte de seus usuários. Entre as razões, os motoristas passam a enxergar e respeitar mais o ciclista – até porque eles mesmos podem pedalar ou conhecer alguém com o hábito.

Soa até estranho, mas tais evidências indicam que a falta de bicicletas nas ruas contribui para um trânsito confuso e perigoso. Tirá-las da garagem, portanto, seria bom para você e seus vizinhos. “Estimular o transporte ativo é uma ferramenta para aprimorar a saúde pública. Baseado nas nossas descobertas, podemos assumir que tais benefícios seriam mantidos no Brasil”, diz Rojas-Rueda.

No artigo europeu, os cientistas constatam: “Para gerar mais benefício à saúde da população, as políticas de transporte devem (…) envolver intervenções adequadas para a segurança de ciclistas e pedestres”. Claro que o dono da bike pode, por si só, incorporar medidas que baixam o risco de tombos ou colisões, porém são mudanças no ambiente que surtem o maior efeito. “Da criação de ciclofaixas e bicicletários à iluminação pública, passando por incentivos financeiros ao comprar uma bicicleta, precisamos criar um contexto favorável ao deslocamento ativo”, preconiza o educador físico Rodrigo Reis, presidente da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde.

Vamos a um caso prático: nos últimos anos, a cidade de São Paulo ganhou 289 quilômetros de infraestrutura cicloviária (são 385 no total e se planeja chegar a 400 até o fim do ano). Também foram criados bicicletários em locais públicos e aprovadas leis como a que obriga novos prédios a oferecer espaços para deixar a magrela. Apesar do bafafá que as medidas provocaram – critica-se a qualidade das obras e o suposto oportunismo dos políticos -, as mortes no trânsito caíram 20,6% de 2014 para 2015. Se olharmos exclusivamente para os ciclistas, houve uma diminuição de 47 para 31 falecimentos (34% a menos). “Não dá pra comemorar, porque 992 pessoas ainda morrem no trânsito. É uma chacina”, lamenta Daniel Guth, diretor da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade). “Mas acredito que o foco maior no transporte ativo contribuiu para a queda geral”, completa.

A prefeitura paulistana também reduziu o limite de velocidade de várias vias. E uma revisão do Instituto Cochrane destaca que a medida seria eficaz na prevenção de lesões entre amantes da bicicleta – embora ressalte que faltam investigações na área. “Essa restrição dá tempo para o motorista reagir a uma situação de perigo. Fora que uma colisão se torna menos grave”, esclarece Caroline Mulvaney, que assina o trabalho. Para ter noção, 85% dos atropelamentos nos quais o carro está acima de 60 quilômetros por hora terminam em morte. E, se você imagina que propostas como essas travam o fluxo de veículos, o TomTom Traffic Index, um ranking das metrópoles mais congestionadas do mundo, mostra que São Paulo caiu do sétimo lugar em 2013 para o 58º no ano passado.

Pedaladas em busca de bem-estar

No final de 2015, a organização Ciclocidade finalizou a pesquisa “Perfil de quem usa bicicleta na cidade de São Paulo”. Entre os 1 804 entrevistados, 28% afirmaram que a principal razão para continuarem indo de um canto a outro com esse meio de transporte é a saúde. Somente a praticidade foi mais citada (43%) – economia e sustentabilidade, entre outros tópicos, ficaram pra trás. “Tenho visto muita gente que, até pela idade, forma física e jeito de pedalar, provavelmente entrou nessa porque o médico mandou”, ilustra Guth. Aliás, ele próprio diz que não se motiva pelo fato de o ciclismo fazer bem para o corpo. “Não sou nada saudável. Eu vejo a vida ativa como um posicionamento pessoal. Mas, pensando bem, tenho bom fôlego e talvez fosse obeso mórbido se não pedalasse”, conta. Veja bem, Daniel: se fazer um exercício todo dia sem reclamar não é ser saudável, nós não sabemos o que é.

Apesar disso tudo, o número de casas com ao menos uma bike vem caindo no mundo de maneira geral. Em um levantamento sem precedentes da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, dados de 1,25 bilhão de domicílios de 150 países (incluindo o Brasil) foram coletados. E, se você tirar China e Índia da história, o índice de residências que abrigam uma magrela caiu de 60% em 1989 para 32% em 2012. “O desenvolvimento da infraestrutura favoreceu o transporte motorizado. Isso levanta questões de segurança entre quem está pensando em usar uma bicicleta”, analisa o engenheiro civil Olufolajimi Oke, que traçou esse histórico global.

Ou seja, é imprescindível lidar com as preocupações e com os conceitos preestabelecidos da população para, de fato, estimular a locomoção ativa. Aquele documento da National Cycling Charity destaca que “o desafio não é pensar nas casualidades, e sim desarmar os receios que fazem um indivíduo não pedalar”. Já falamos que o ciclismo previne mortes. Porém muita gente não sobe no selim por medo de ser roubado – enquanto, curiosamente, não deixa de ir à concessionária e comprar um automóvel sob o mesmo pretexto.

Outra preocupação é com os sobes e desces de uma cidade e com a distância de determinados trajetos. “O corpo se acostuma e supera desafios com uma facilidade muito maior do que se imagina”, assegura o educador físico Rodrigo Bini, da Escola de Educação Física do Exército, no Rio de Janeiro. Além da Cidade Maravilhosa, Bini morou em Florianópolis e Porto Alegre – e sempre recorreu à bicicleta. Ele ficou até um tempo em Auckland, na Nova Zelândia, por causa de seu doutorado. “Os neozelandeses pedalam tranquilamente em aclives mais agressivos que os nossos e por distâncias longas”, lembra-se. “O uso da bike é também uma questão cultural”, reflete. Diante disso, fazendo ajustes na rota e, acima de tudo, experimentando esse modo de transporte, você pode se surpreender e entrar na onda.

Suor, mais suor e trabalho

O ortopedista e diretor da Sociedade Paulista de Medicina Desportiva, Guido Tsuha, faz triatlo e sai direto pela região de Araraquara, no interior de São Paulo com sua mountain bike. Mas não vai até o serviço em duas rodas. “Eu chegaria suado e não tem chuveiro em todo local”, explica. Essa realmente é uma barreira. Por mais que o ciclismo urbano preconize um ritmo lento até por questões de segurança, a associação entre movimentação e temperatura alta gera transpiração. A solução é levar uma muda de roupas e, dentro do possível, pressionar os superiores para que disponibilizem um vestiário.

“Temos de cobrar por melhores infraestruturas da saída de casa ao destino final”, diz Guth. O cicloativista cita o episódio de uma pessoa que vivia em um edifício onde não se permitia estacionar a bicicleta na garagem ou subir com ela no elevador. Após ela pressionar por mudanças, o Sindicato da Habitação de São Paulo emitiu uma nota deixando claro que nenhum condomínio pode proibir o morador de entrar em seu apartamento com o equipamento. A posição de cada um de nós é que vai criar uma sociedade mais saudável. Reflita. E, por que não, vá de bike!

Técnica e tecnologia

Uma coisa é subir uma ladeira com aquela bicicleta pesada e cheia de ferrugem. Outra é encarar o desafio em cima de uma máquina leve e com boa variação de marchas. “Além do equipamento, o iniciante pode começar em caminhos mais planos e evoluir aos poucos”, diz o ortopedista Guido Tsuha. Rodrigo Bini acrescenta que alguns ciclistas tiram as nádegas do selim (pedalando “de pé”) para ganhar potência. E, no fim das contas, também não é nenhuma derrota descer da magrela e caminhar até o terreno ficar mais suave.

Impacto na saúde

Segundo a National Cycling Charity, ciclistas vivem dois anos a mais do que não ciclistas e faltam 15% menos no serviço. Veja os benefícios da prática

Musculatura

O movimento constante das pernas fortalece a região. Se o terreno é acidentado, os braços também são desenvolvidos.

Equilíbrio

Manter a estabilidade em cima de duas rodas estimula a coordenação motora. Esse treino, por sua vez, aplaca o risco de quedas – além de aliviar o estresse.

Fôlego

O ciclismo é um exercício aeróbico. Ou seja, trabalha os pulmões e o coração – o que afugenta as doenças cardiovasculares.

Peso corporal

Estudo da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, na Inglaterra, atesta: quem vai de bike pro escritório é 5 quilos mais magro do que os motoristas.

Fonte: M de Mulher

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